A frase do especialista Célio Ribeiro traduz a mudança em curso: a Carteira de Identidade Nacional (CIN), popularmente chamada de CIN, já chegou a cerca de 35 milhões de brasileiros e deverá substituir gradualmente o antigo RG até 2032. É uma transformação discreta, sem estardalhaço, mas de impacto estrutural, capaz de redefinir a forma como o cidadão se relaciona com o Estado. Ribeiro é presidente do Instituto Internacional de Identificação (InterID) e da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia em Identificação Digital (ABRID), entidades que lideram a agenda de modernização da identificação digital no país. Com longa atuação no tema, tornou-se uma das principais vozes da cidadania digital no Brasil. “É uma marca histórica”, afirma. “Não é simplesmente a emissão de um documento. É a criação de um sistema integrado, com um único número nacional que identifica cada brasileiro.” O governo federal pretende emitir 130 milhões de documentos até 2026. Para Célio, a meta é viável, mas exige prioridade política e investimentos contínuos. “A tecnologia está disponível. É preciso garantir que os recursos cheguem aos órgãos de identificação e que haja foco na emissão da CIN”, afirma. Até pouco tempo atrás, a carteira de identidade estava atrelada quase exclusivamente à segurança pública. Agora, com o CPF como número único, a lógica muda: a identificação passa a ser um passaporte para o exercício da cidadania. “Através de uma identificação segura, cada brasileiro passa a ter acesso ágil e confiável a todos os serviços públicos, preservando a integridade de seus dados”, explica Ribeiro. Identidade desde o berço A grande virada da CIN, porém, não está apenas na tecnologia ou na substituição do RG. Está no nascimento. Hoje, uma criança nasce e recebe apenas a Declaração de Nascido Vivo (DNV), um papel frágil que dá origem à Certidão de Nascimento, outro papel, também vulnerável. Só muito tempo depois, em um cartório ou posto policial, essa criança se transforma oficialmente em cidadã com documento próprio. Esse vácuo, alerta Ribeiro, abre espaço para crimes graves. “Todos os anos, centenas de crianças são subtraídas de suas famílias por falta de uma identificação segura. Se nós conseguirmos evitar a subtração, o tráfico, de um único bebê, de uma única criança, já valeu a pena”. A proposta é mudar a lógica. A biometria da criança seria coletada já na maternidade e vinculada à da mãe e, quando possível, também à do pai. Os dados seriam enviados ao órgão de identificação e ao Sistema Biométrico Federal. Em poucos dias, a criança teria sua CIN emitida, com informações biográficas e biométricas já integradas ao sistema nacional. Esse movimento ganhou força institucional com o Pacto Nacional pela Identificação Neonatal e Infantil, lançado em 24 de setembro de 2025, durante o Congresso da Cidadania Digital. A iniciativa estabelece a obrigatoriedade de vincular a biometria da criança à de sua mãe e, preferencialmente, também à do pai, assegurando a identidade legal desde o nascimento e reforçando a proteção integral prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O pacto é uma iniciativa do InterID, em conjunto com a Abrid e a FrenID (Frente Parlamentar Mista para Garantia do Direito à Identidade), e foi inaugurado com a assinatura de todos os órgãos oficiais de identificação das unidades da federação, do CONADI e do Conselho Nacional de Dirigentes de Polícia Científica (CONDPC).. Entre os benefícios esperados estão a prevenção de trocas indevidas em maternidades, a redução de fraudes em benefícios sociais e maior efetividade das políticas públicas. O pacto também se conecta à meta 16.9 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que prevê identidade legal para todos até 2030. Contra fraudes Se antes era possível ter até 27 identidades válidas no país, a nova carteira elimina essa multiplicidade. A integração entre Receita Federal, Ministério da Justiça, Gov.br e sistemas biométricos reforça a segurança. “Agora existe a conferência biométrica, que garante que a pessoa é realmente quem diz ser. Tanto no modelo físico quanto no digital, os itens de segurança foram ampliados”, explica. Padrão internacional O novo documento possui inéditos e modernos itens de segurança, respeitando padrões e normas internacionais. Até 2032 o modelo físico migrará totalmente para o cartão em policarbonato, em padrões semelhantes aos utilizados na Europa e muitos outros países. Pacto de cidadania A mudança exige adesão social e prioridade política. Caso contrário, a “nova identidade” corre o risco de ser engolida por disputas orçamentárias e pela inércia do sistema público. A CIN não é apenas um documento. É a promessa de uma cidadania integral, segura e reconhecida desde o primeiro dia de vida. Fonte: https://veronoticias.com/politica/finalmente-o-brasil-esta-saindo-do-submundo-da-identificacao/